Como já vimos no post com dicas práticas da nutricionista de Gwyneth Paltrow, Shira Lenchewski, só é possível mudar nosso corpo quando alinhamos nossa forma de pensar com nossos objetivos de vida saudável. E esta forma de pensar impacta diretamente a nossa autodisciplina, ou autorregulação, que faz com que consigamos seguir as regras que determinamos para nós mesmos.
Shira ensina que, do ponto de vista da atividade mental, balancear nossos desejos a curto-prazo (chocolate!) e objetivos mais amplos de bem-estar exige foco e atenção. Boa parte desse trabalho é feita no córtex pré-frontal, a área do cérebro que regula pensamentos, emoções e tomada de decisões, e é justamente a região mais vulnerável ao stress. Isso fica claro quando atacamos um pacote de bolacha em um dia em que nos sentimos soterrados por afazeres. A sorte é que é possível adaptar nosso condicionamento diante desses gatilhos, o que nos dá mais flexibilidade e perspectiva quando as coisas realmente complicam.
Se há 20 anos pensávamos que apenas cérebros jovens eram capazes de formar novas conexões entre células, descobriu-se recentemente que somos mais adaptáveis do que isso. Constantemente, ao longo da vida, nosso cérebro sofre mudanças estruturais em suas conexões em resposta a experiências e pensamentos específicos, por um processo chamado neuroplasticidade. Isso significa que podemos desenvolver habilidades e comportamentos favoráveis (como mais autocontrole, por exemplo) mesmo se não possuirmos certas características naturalmente.
A “Ginástica da Mente” acontece a partir do foco em habilidades que nos fazem sentir mais no controle de nossas próprias decisões, o que consequentemente aumenta nossa satisfação. Tais habilidades nos ajudam a permanecer lúcidos mesmo quando estamos sob pressão, o que melhora significativamente o controle dos impulsos. Você pode imaginar o quão útil é essa capacidade quando estamos exaustos, ou então acabamos de terminar um relacionamento, e nos vemos diante de um ~maravilhoso~ jantar light com porções reduzidas.
Diminuir o ritmo e focar nas experiências, momento-a-momento, melhora a autorregulação, e esse é apenas um aspecto da transformação que práticas de meditação e mindfulness podem trazer para nossas vidas (leia mais neste post da Mari). Porém, simplesmente dizer para as pessoas comerem com atenção plena pode se tornar mais uma regra que se impõe sobre a alimentação. As pessoas sabem que elas deveriam estar mais presentes enquanto comem, mas muitos não sabem como fazê-lo.
Abaixo seguem três dicas funcionais (e divertidas!) para treinar nosso cérebro a prestar atenção no que comemos, enquanto comemos:
1) Trocar as mãos ao comer
Usar a mão não-dominante (esquerda para destros, direita para canhotos) nos força a concentrar enquanto comemos, e previne que entremos no piloto automático.
2) Comer com as mãos
Pode soar um pouco selvagem, mas deixar os talheres de lado aumenta a concentração e permite que você experimente a sensação física de comer antes mesmo de a comida chegar na sua boca. (Claro que para isso, é melhor selecionar comidas sólidas e companhias mais interessadas em novas experiências do que em te julgar)
3) Usar prato
Mais do que evitar migalhas, colocar o que vamos comer no prato facilita o controle de porções e é uma parte importante do processo de comer com atenção. Isso não significa que vamos usar todo um jogo de pratos em um almoço corriqueiro, mas você entendeu o espírito! Indo além: mais vale pegar um cookie inteiro do que comer vários pedacinhos direto da caixa, que podem somar mais do que uma unidade, e não dão a mesma satisfação de ver aquela forma bonita e redonda na nossa frente.
Se você tem interesse pelo assunto e gostou da abordagem de Shira, leia esse post que aborda outros aspectos da sua técnica e traz outras dicas certeiras para uma alimentação saudável.
Agora, bom apetite, e mãos (ou neurônios) à obra!
(Adaptado do artigo original “Changing The Way We Think About Food”, publicado no Goop)