Ultimamente muito vem se discutindo sobre as relações entre o homem e a natureza. Crise hídrica, desmatamentos, aquecimento global, mudanças climáticas, sustentabilidade são temas recorrentes. Muito também tem se falado sobre a responsabilidade humana na ocorrência desses eventos.
Nós, seres humanos somos animais (racionais, mas somos), e frequentemente parecemos nos esquecer dessa nossa condição existencial e do quanto a natureza é importante, não só para a nossa sobrevivência, mas também para a nossa saúde e qualidade de vida.
Embora busquemos estar junto à natureza para recreação e divertimento, os estudos científicos tem demonstrado uma série de benefícios que incluem: efeitos positivos sobre a saúde física, bem-estar psicológico, melhora de habilidades cognitivas e promoção de coesão social. Estarmos conscientes dessas possibilidades é muito importante, principalmente se vivemos em áreas urbanas.
Estudo de revisão que incluiu 57 estudos científicos, demonstrou, entretanto, que as ciências da saúde, ainda pesquisa de forma tímida esse tema, uma vez que tem sido alvo principalmente das ciências ambientais e sociais, que lideram as publicações. Esta produção científica tem ficado a cargo de pesquisadores principalmente da América do Norte e da Europa (79%) e nenhum estudo foi localizado procedente da América do Sul ou da África, ainda que ambas exibam rica biodiversidade.
A adoção de uma dieta saudável e exercícios físicos tem sido fortemente indicada para prevenção de estresse e outras doenças ligadas a vida moderna. Todavia, há crescente evidência de que a exposição aos ambientes naturais tem efeitos restauradores e pode reduzir o estresse, estados de ânimos negativos, sentimentos negativos e fadiga mental e pode promover aumento da vitalidade, da autoestima e bem-estar.
O contato com a natureza pode oferecer aos indivíduos um senso de estar longe – mentalmente ou fisicamente – de potenciais fatores desencadeadores de fadiga mental, comuns nos ambientes urbanos (poluição sonora e visual, trânsito, violência). Distrai a mente de eventos considerados como “fardos” ao mesmo tempo que os substitui por elementos que se mostram conectados e totalmente integrados. Os estudiosos apontam que ela exerce um poder de fascinação sobre nós. Cenas naturais contem muito mais características fascinantes do que os ambientes urbanos, pois são ricos em cores e texturas (ex: um campo de flores), pela vida presente (ex: um bando de pássaros voando) ou por um fluir constante (ex: um rio correndo ou a mudança de padrões de nuvens no céu). Ou seja, a natureza que pulsa e vibra a nossa frente nos encanta, harmoniza a nossa mente e nos lembra que também pertencemos a ela. Há um resgate de uma conexão que, muitas vezes, nos parece perdida e, dessa forma, física, mental e espiritualmente promove um profundo senso de bem-estar. Proporciona uma experiência estética e afetiva prazerosa e assim atenua o desprazer que pode advir das questões que nos desgastam no cotidiano. Incorporar a interação com a natureza como hábito é saudável à saúde e inunda nossa alma de beleza.
Por Eliseth Ribeiro Leão
Enfermeira. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Birdwatcher e fotógrafa de natureza.