Por Mike Ives
Hong Kong – Cookies e bebidas com açúcar servidos em reuniões governamentais vão embora. Assim como macarrão importado e peixes enlatados servidos em bangalôs turísticos.
Tomando seu lugar? Cocos, lagostas e suco de limão locais.
Enquanto muitos governos lutam para banir os refrigerantes para freiar a obesidade, o pequeno Torba Tourism Council na remota ilha do Pacífico, nação de Vanuatu está planejando proibir todas comidas importadas em funções governamentais e estabelecimentos turísticos pela 13 ilhas inabitadas da província.
Lideres da província esperam torna-la em um paraíso de comida orgânica local. A proibição, marcada para entrar em vigor em março, vem por muitos nativos estarem lutando com a crise de obesidade vinda em parte pelo alto consumo de ‘junk food’ importada.
”Nós queremos proibir todas ‘junk food’ dessa província” disse Luke Dini, presidente do conselho e um padre anglicano aposentado, numa entrevista por telefone de Torba. Ele disse que a província tem uns 9.000 residentes e menos de 1.000 turistas por ano, a maioria europeus.
Mr. Dini disse que a proibição seria um esforço para promover a agricultura local e uma resposta por aumento de diabetes e outras doenças que os membros do conselho observaram na capital de Vanuatu, Port-Vila. Passar uma proibição de alimentos importados para Torba pode levar pelo menos 2 anos, ele acrescentou, e uma decisão final em quais produtos seriam proibidos seria feita pelo governo nacional.
Especialistas em saúde pública que estudaram as ilhas do Pacifico acolheram a proibição, dizendo que medidas ousadas são necessárias para uma região pobre e isolada de 10 milhões de pessoas – em que o custo de mandar legiões de pacientes para o exterior para tratamentos de diálise ou transplantes de rins é insustentável.
”Imagine se 75 milhões de americanos tivessem diabetes – essa é a escala da epidemia que estamos falando em Vanuatu,” disse Roger Magnusson, um professor de leis e governança de saúde na Sydney Law School na Australia, por email.
”Alguém pode realmente dizer que Vanuatu não tem o direito de exercer sua soberania de qualquer jeito possível para proteger sua população de uma epidemia dessa escala?” ele acrescentou.
Especialistas dizem que a crise de saúde da região é essencialmente devido a mudança de uma dieta tradicional baseada em cultivo de raizes para uma que é alta em açúcares, amido refinado e comida processada.
Em um sinal do quão grave é a crise, o World Bank disse em uma reportagem de 2014 que 52% dos homens adultos no Reino Polinésio de Tonga eram estimados de serem obesos – a mais alta taxa de 188 países inspecionados. Também disse que dos 7 países com taxas de obesidade feminina de pelo menos 50%, 4 deles são nações das ilhas do Pacifico: Tonga, Samoa, Kiribati e Estados Federados da Micronésia.
Um estudo daquele ano no jornal Diabetes Research and Clinical Practice disse que 10 países e territórios na região tem taxas de diabetes entre 19 e 37%. A taxa em Vanuatu, que tem uma população de cerca de 250.000, era quase 24%, o estudo disse, e o desenvolvimento econômico era estreitamente ligado ao consumo de proteínas animais e carboidratos simples.
Por contraste, a taxa de diabetes nos Estados Unidos em 2014 era 9,3%.
”É tão errado o que tem sido feito para explorar essas nações por fornecer um alimento que não é, em longo prazo, melhor para a saúde.” disse Elaine Rush, uma professora de nutrição na Auckland University of Technology na Nova Zelândia que estudou problemas relacionados à saúde nas ilhas do Pacífico. Ela descreveu os efeitos que a crise de saúde está tendo nas famílias como ”dizimando”.
Especialistas disseram em entrevistas que se tinha um precedente na região para policiais restringirem importados de bebidas não saudáveis e outros produtos.
Mais da metade dos 20 países e territórios das ilhas do Pacífico monitoradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo o Vanuatu, tem impostos para bebidas açucaradas, disse Wendy Snowdon, uma oficial da OMS baseada na Suva, capital de Fiji. Algumas comunidades na região baniram o tabaco, ela acrescentou, e Tokelau, um território da Nova Zelândia, proibiu importados de bebidas gaseificadas.
Gerhard Sundborn, um epidemiologista da University of Auckland, disse que bebidas açucaradas tinham uma taxa média entre 7 e 15% nas ilhas do Pacífico, e que os governos tipicamente usam as taxas para desencorajar o consumo.
Mesmo assim, Dr. Snowdon disse, que as taxas e proibições de bebidas nas ilhas do Pacífico – junto com educação, comida etiquetada e programas nutricionais nas escolas – não tem reduzido o nível de obesidade na região ou os problemas de saúde relacionados.
”Nenhum país no mundo foi capaz de demonstrar reduções na obesidade, então nós não somos tão diferentes.” ela disse. ”É só que nossos níveis são altos.”
Uma pergunta em aberto para o Vanuatu, um membro do World Trade Organization, é se eles enfrentariam um contragolpe se Torna aprovasse a proibição de ‘junk food’, especialistas dizem. Como um cauteloso exemplo, eles citaram a proibição de Samoa em 2007 de importados de caudas de peru, uma comida popular nas ilhas do Pacífico que contém um alto nível de gordura.
Em 2011, como uma condição para participar, o World Trade Organization ordenou que Samoa eliminasse a proibição em um ano. A organização disse numa declaração que permitiria um imposto de importação de 300% nas caudas de peru e proibição doméstica de promoções durante o período de transição para permitir que o país ”desenvolva e implemente um programa em todo país promovendo uma dieta mais saudável e escolhas de estilo de vida.”
”Foi tremendamente desapontador.” Professor Rush disse sobre a decisão. ”Mostrou que o governo que trouxe a proibição não tinha nenhum poder.”
Perguntado sobre a proibição das caudas de peru em Samoa, Mr. Dini, o presidente do conselho de Torba, disse que ele deixaria a política de comércio para o governo nacional de Vanuatu.
Mas como o consumo de doces, carnes enlatadas e outras comidas importadas ameaçam sobrecarregar jovens pelo mundo todo com uma vida de doenças que podem ser prevenidas, ele acrescentou, o governo tem a responsabilidade de protege-los.
”Eles sabem que as pessoas de Vanuatu são seu povo.” ele disse, ”e eles deveriam tomar decisões que são baseadas no valor das futuras gerações dessa nação.”
Post Original do New York Times.